quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Ebenézer gomes Cavalcanti - 100 anos
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
ALAM homenageia pilotos brasileiros
Na ocasião, assistiremos à conferência intitulada "Senta a Pua! - A Força Aérea Brasileira na 2ª Guerra Mundial", proferida pelo Professor Mestre e Acadêmico Glaucio Cardoso.
O Evento começará às 19h e tem entrada franca.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Rádio Nacional: 75 anos
A Academia de Letras & Artes de Mesquita receberá o convidado JOÃO LEITE para falar do 75º aniversário de fundação da mítica Rádio Nacional.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Físico por formação, Flávio Rangel começou a pesquisar sobre a Segunda Grande Guerra na década de 70, levado pela curiosidade em entender como aquele período foi fundamental para a formação do panorama mundial nos anos seguintes.
Ao enfocar a Batalha da Inglaterra, sua conferência abordou uma das mais míticas de todas as campanhas que compõe o conflito mundial.
Sua fala começou com um rápido panorama do início do conflito mundial, iniciando pela ascenção de Hitler ao poder na Alemanha e de como a guerra se desenrolou até chegar aos céus britânicos. Na sequência, abordou as principais aeronaves envolvidas no conflito, ressaltando o grande papel dos aviões britânicos Hurricane (geralmente esquecidos em função dos Spitfire's). Falou também dos líderes envolvidos na batalha e dos erros cometidos pela Alemanha, sendo o principal deles o uso indevido de suas aeronaves.
Ao analisar a Batalha da Inglaterra, no encerramento de sua conferência, o Prof. Flávio ressaltou a importância de aprender as lições do passado estabelecendo uma comparação entre a mentalidade de Hitler e sua crença na supremacia da Raça Ariana e os recentes atentados ocorridos na Noruega.
terça-feira, 5 de julho de 2011
ALAM relembra a Batalha da Inglaterra
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Café Cultural
quinta-feira, 2 de junho de 2011
DISCURSO DO PRESIDENTE
(Discurso do jornalista Othon Ávila Amaral por ocasião de sua posse na presidência da Academia de Letras e Artes de Mesquita - ALAM - no dia 31 de maio de 2011).
Primeiramente elevo os meus pensamentos a Deus para agradecer a Ele as benfazejas dádivas que mercê de sua imensa bondade tenho sido alvo. São bênçãos que vão acontecendo de período em período. Hoje desfruto de mais uma grande: Presidente de uma Academia de Letras e Artes da qual fui um dos fundadores Entendo que para a função para a qual estou sendo investido existem em nosso meio acadêmico outros bem preparados, outros bem aquinhoados. A Deus agora e eternamente minha perene gratidão. Sou o que sou porque ao longo de três quartos de século fui por Ele conduzido. Procurei diligentemente armazenar conhecimentos através da insaciável curiosidade de ler livros e jornais, de recortar e arquivar artigos, de organizar uma Biblioteca com mais de 4000 livros, de gêneros diferentes, de conviver com os vivos e com os mortos. Por exemplo: com Gilberto Freyre e com Hélio Jaguaribe; com Nelson Werneck Sodré e com Laurentino Gomes; com Armando Nogueira e com Juca Kfoury; com José dos Reis Pereira e com Zaqueu Moreira de Oliveira.
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Minha vida não poderia ser de outra maneira. Quem ganhou de presente, no início da adolescência, uma biografia de Rui Barbosa, escrita pela até hoje sempre lida Cecília Meirelles, estava sendo guiado para uma trajetória literária. Cecilia, nome que faz lembrar de outra Cecília, aquela que foi asfixiada devido a sua fé cristã. Cecília a poetisa, Cecília a musicista. Meu primeiro livro literário foi a biografia daquele que hoje em dia é um desconhecido, escrito pela poetisa carioca que, na adolescência estudou música e canto, talvez influenciada por Cecília, aquela que foi escolhida para ser a patronnesse da música e que “morreu cantando”. O livro de Cecília Meirelles foi o primeiro dos 4000 livros já mencionado. Tinha em 1949, quando tais coisas aconteceram, 13 anos de idade!
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Dez anos depois, em setembro de 1959, relançamos, eu e Carlos Roberto Santos, o jornal semanal “A Verdade”. O veterano e querido jornalista, Franklin Silva Araujo, morando em Três Rios, fez um precioso registro sobre os editores do jornal: “A Verdade” é uma demonstração do valor de uma juventude que se vem formando no valente município serrano, ao mesmo tempo que, confirma gloriosa tradição. É que são seus diretores os jovens Othon Oswaldo Ávila Amaral, menino que foi criado em volta das máquinas de uma tipografia, e Carlos Roberto Santos, que vem confirmando as tradições de uma família de jornalistas, já numa quarta geração”. (A Região, 14/01/1960). Tinha em 1959, 23 anos!
A propósito do jornal “A Verdade”, recebi cartão datado de 11 de dezembro de 1959 do Marechal Henrique Lott, ex-Ministro da Guerra, candidato a presidente do Brasil que, por não ter sido eleito ocasionou a ditadura militar devido a renúncia do que foi eleito. Escreveu ele: “Acuso o recebimento de um exemplar do grande jornal ‘A Verdade’, de 11 de novembro de 1959, com anexos, que me sensibilizou pela sua atitude generosa e patriótica. Necessário se torna que lhe envie meus agradecimentos, extensivos ao prezado Jornalista Carlos Roberto Santos e demais membros desse conceituado Jornal, pela valiosa colaboração, em prol de nossa causa” (A Verdade, 11/11/1959). Tinha 23 anos de idade!
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Um ano antes da “Revolução de 1964”, o Brasil vivia momentos de grande agitação. Greves em todas as categorias profissionais. Agitação nas Forças Armadas. Movimentos reivindicatórios de camponeses. Na cidade onde nasci e vivi durante trinta anos uma crise entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo quase paralisou o município. Escrevi um artigo intitulado “Crise em Miniatura”. Comparei a situação de Valença com a situação do Brasil. O artigo foi transcrito para o jornal dos trabalhadores na indústria têxtil do município. (Traço de União, outubro e novembro de 1963).
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Foi também abordado por um vereador local que comentou a oportunidade do artigo e arrematou: “Felicito a Othon Avila Amaral que nesta hora grave em que se encontra o governo do município vem patrioticamente descrever com precisão o que ocorre na política nacional, defendendo a nossa política municipalista, exatamente quando ela é exercida com probidade e vontade de acertar”. (O Valenciano, de 10/11/1963). Tinha 27 anos!
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Minhas relações com a Academia Valenciana de Letras era a melhor possível. Mantinha uma coluna no “Jornal de Valença” onde destacava as notícias literárias do Brasil e de Valença. Por ocasião da IX Festa da Inteligência, uma iniciativa do Dr. Antonio Augusto de Siqueira, Presidente que deu vida á instituição, me surpreendeu. Na ocasião fui agraciado com um diploma cujo texto jornalístico e cujo jornal que o publicou distraidamente não anotei. Está registrado o que passo a ler: “Foi uma noite em que para surpresa nossa presenciamos o nosso confrade valenciano, Othon Ávila Amaral, jornalista e escritor do “Jornal de Valença”, ser chamado pela mesa presidencial para receber um Diploma pelos bons serviços prestados àquela Casa de Cultura. Efetivamente, há longo tempo, vêm esse jornal comentando através da pena brilhante desse jornalista, todas as festas e tudo o que se passa na Academia Valenciana de Letras” (8/12/1968).
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Em 1969 escrevi, por ocasião do Milésimo gol de Pelé, o artigo “A Bíblia, eu e a Ciência”. Despretensiosamente enviei o artigo para a redação d’O Jornal Batista. E qual não foi a minha surpresa de vê-lo publicado na primeira página de nosso hebdomadário. Foi o primeiro artigo que ao longo de quarenta anos iniciou uma seqüência de mais de seiscentos outros publicados. (O Jornal Batista de 19/10/1969). Tinha 33 anos! Dois anos depois, com 35 anos, tornava-me Secretário de Redação d’O Jornal Batista e na função permaneci 16 anos, até 31 de dezembro de 1988. Desde 1995 faço parte do Conselho Editorial daquele jornal.
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No dia 14 de outubro de 2000 reuniram-se alguns mesquitenses de origem ou aqui residentes para organizarem uma instituição literária. Presidiu aquele encontro o escritor Claudio de Oliveira secretariado pelo jornalista Miron Filho. Definiu-se que a Academia teria vinte cadeiras e na mesma ocasião seriam definidos os vinte patronos. Para identificá-la seria usada a sigla ALAM, que significa Academia de Letras e Artes de Mesquita. Ela nasceu graças a inspiração de Durval Meirelles Coelho com o apoio de Claudio de Oliveira.
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No dia 26 voltaram a se reunir os sonhadores daquele projeto cultural. Foi lido o estatuto preparado pela comissão que na reunião anterior havia sido escolhida: Claudio de Oliveira, Claudomiro Francisco Carneiro (Miron), Walter de Oliveira Prado, Flavia Cardim Salgado, Durval Meirelles Coelho e José Lopes Seixas.
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Por ocasião da primeira solenidade de posse já estavam definidos 13 acadêmicos, exceção das cadeiras 07, 08, 09, 11, 16, 17 e 19: Walter Prado, Leonardo Aguiar, Flávia Cardin, Nisval de Magalhães, Miron Filho, Cláudio de Oliveira, Odson Costa Ferreira, Durval Meirelles, Dalma Rodrigues e Othon Ávila Amaral. Três não estão mencionados porque perderam o estímulo e desapareceram. Também Jorge Prado é do grupo de 9 de novembro de 2000 mas não foi citado no documento que tenho em mãos.
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A primeira reunião depois de estruturada a Academia aconteceu no dia 13 de dezembro de 2000 no Salão de Festas e Eventos Stylus, localizado à Rua Júpiter, 437, esquina com a Rua Barão de Salusse, em Mesquita. Constou da pauta daquela reunião os seguintes itens: a) Instalação oficial do sodalício; b) Posse da primeira Diretoria para o biênio 2000/2002; c) posse dos acadêmicos Walter de Oliveira Prado, cadeira 1, Patrono José Jerônimo Mesquita; Nisval de Magalhães, cadeira 5, Patrono João Leopoldo Modesto Leal; Odson Costa Ferreira, cadeira 10, Patrono Machado de Assis e Dalma Rodrigues, cadeira 15, Patrono Olavo Bilac; d) Confraternização.
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A primeira diretoria foi a seguinte: Presidente, Durval Meirelles Coelho; Vice-presidente, Nisval de Magalhães; 1º Secretário, Cláudio de Oliveira; 2º Secretário, Odson Costa Ferreira; 1º Tesoureiro, Leonardo Aguiar Rocha Pinto; 2º Tesoureiro, Othon Ávila Amaral. Diretor Cultural, Walter de Oliveira Prado; Conselho Fiscal, Flávia Cardin Salgado, José Lopes Seixas e Claudomiro Francisco Carneiro.
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Caminhando para onze anos a Academia de Letras e Artes de Mesquita teve com seu primeiro Presidente o acadêmico Durval Meirelles Coelho em quatro biênios, 2001/2002; 2003/2004, 2005/2006, 2007/2008; teve como seu segundo Presidente o Dr. Alberto Ferreira Paulo no biênio 2009/2010. Nos dez anos de sua existência ela já empossou cerca de 40 acadêmicos. É verdade que alguns foram transferidos para o quadro de Sócios Correspondentes. Iremos fazer um levantamento do Quadro de Sócios Efetivos e do Quadro de Sócios Correspondentes com o propósito de conhecer os que entraram, permaneceram e abandonaram a instituição.
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Se houve uma perda de valores humanos com o abandono de alguns a Academia foi muito valorizada com a chegada de nomes expressivos. Entre os primeiros catorze já mencionados tínhamos somente uma senhora, Dalma Rodrigues, hoje temos várias e de grande envolvimento no trabalho acadêmico, Ana Lúcia Martins da Silva, Iolanda Marta Brazão Protázio, Márcia Lima dos Santos, Marlize Rodrigues, Maria Helena de Oliveira, Lidia Mendes Santana e outras. Entre os acadêmicos chegaram valores expressivos: Jerônimo Alberto de Carvalho, Jorge Rocha, Antonio Neves, Edmundo Nascimento, Glaucio Varella Cardoso, Jorge Borges e outros.
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O biênio presidencial do Dr. Alberto Ferreira Paulo foi assinalado por conferências de alto nível por oradores convidados. Membros da Academia também foram usados e ao longo dos dois últimos anos o nível dos trabalhos foi de qualidade elevada. Para alcançar o patamar mencionado a colaboração do Prof. Gláucio Varella Cardoso foi muito importante. Mesclando a cultura popular e a cultura erudita os acadêmicos da ALAM vão se firmando no contexto social peculiar da Baixada Fluminense que é diferente de outras regiões do próprio Estado. “Se a Academia nasceu sob o signo do bem e sob os eflúvios da cultura e da arte” nada impedirá que ela venha a ser a mais autêntica e lídima representante da liberdade, da justiça, da dignidade e da integridade. Se nascemos sem recursos, sem faustos, e sem eles nos mantivemos durante dez anos não será através de concessões que abdicaremos de nossos princípios. O diálogo será nosso instrumento para alcançar nossos sonhos! E os veremos realizados porque temos conosco aquele que nos prometeu: “Não te deixarei nem te desampararei” (Jos. 1:5). Muito obrigado.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Posse da nova diretoria da ALAM (Fotos)
quarta-feira, 4 de maio de 2011
MÁRIO BARRETO FRANÇA, PRÍNCIPE DOS POETAS EVANGÉLICOS BRASILEIROS
As chamadas sete artes tradicionais (música, escultura, pintura, dança, teatro, cinema e literatura) imitam a vida, e traduzem o êxtase do sentimento humano, para uma linguagem própria e específica. O artista pode ser legítimo, mesmo isolado. O que caracteriza a condição artística é a alma sensível aos vários aspectos da vida, e a capacidade de expressar o sublime com autenticidade e sinceridade. Um misantropo, escondido no alto da montanha, não deixa de ser artista, se ele sente a vida e a expressa em termos inteligíveis.
Arte é também mensagem, tem alcance social. O artista busca reconhecimento. Por isso, submete-se à crítica. A arte comunica. Comunicação significa tornar algo comum, no sentido de que outros vejam, ouçam, sintam, compreendam, entendam e reajam à mensagem originada na alma do artista.
A poesia, provavelmente a mais antiga das formas literárias, consiste no arranjo harmônico do pensamento, geralmente organizado em versos, com vocábulos precisos e apropriados, com figuras e metáforas, no mais das vezes com rima, métrica e ritmo, levando em conta o sentido das palavras e a estética dos sons. Tudo isso no propósito de provocar os sentimentos humanos.
Plutarco, filósofo grego do primeiro século da era cristã, biógrafo de varões ilustres da antiguidade, dizia que
A pintura deve ser uma poesia muda, e a poesia, uma pintura que fala.
Para Mariano José Pereira da Fonseca, nosso Marquês de Maricá, matemático, filósofo, escritor e político dos tempos do Império,
A filosofia desagrada porque abstrai e espiritualiza. A poesia deleita porque materializa e figura todos os seus objetos. Quereis persuadir os homens? Falai a sua imaginação, e confiai pouco em sua razão.
A poesia religiosa sofre às vezes injusta discriminação. Alguns críticos preconceituosos não a consideram legítima expressão artística. Tratam-na como subliteratura ou estilo menor. Mas como negar a condição de obra poética a salmos bíblicos, como este:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor do que Deus, e o coroaste de glória e de honra? (Salmos 8.3-6)
Ou como resistir ao lirismo da literatura poética da Bíblia, mostrado neste texto:
És linda, amada minha,... imponente como um exército e suas bandeiras. Desvia de mim os teus olhos, pois eles me perturbam. O teu cabelo é como um rebanho de cabras, que descem pelas colunas de Gileade. Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro... As tuas faces por trás do teu véu são como as metades de uma romã. Pode haver sessenta rainhas, oitentas concubinas e incontáveis virgens, mas unica é minha pomba perfeita. Ela é a única de sua mãe, predileta da que a deu à luz. Quando as moças a veem, consideram-na muito feliz; as rainhas e concubinas a elogiam” (Cântico dos Cânticos 6.4-9).
Ou à beleza extraordinária do poema de São Paulo Apóstolo a respeito do amor:
Mesmo que eu falasse as linguas dos homens e dos anjos, mas não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o prato que retine. E mesmo que eu tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios, e tivesse todo o conhecimento, e mesmo que tivesse fé suficiente para mover montanhas, mas não tivesse amor nada seria. E mesmo que eu distribuisse todos os meus bens para o sustento dos pobres e entregasse meu corpo para ser queimado, mas não tivesse amor nada disso me traria benefício algum (1 Coríntios 13.1-3).
E quem se atreve a rejeitar como arte a magnífica e clássica obra de John Milton, autor de Paraiso perdido e Paraíso recuperado. E a Divina comédia de Dante Alighieri, porventura não trata de assuntos religiosos?
Não é possível declarar subliteratura poema como este de Gregório de Matos, cantador do Brasil Colônia
A Jesus Cristo, nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
(Gregório de Matos)
Ou este de Jorge Lima
Poeta, poeta, podes fazer
Desarrumar as terras do mundo
Poeta, podes fazer.
Arrumar-se, limites de pátria
Poeta, podes fazer.
Derramar azeite no mar,
Plantar flores no topo dos montes,
Plantar trigo nos vales do mundo,
Poeta, podes fazer.
Extinguir a palavra de Deus,
Afastar a verdade da terra,
Poeta, não podes fazer.
Entre os cristãos evangélicos, também chamados protestantes, avulta um nome, quando se fala de poesia: Mário Barreto França. Há muitos outros sem dúvida a merecer destaque, como Jônatas Braga, Gióia Júnior, Myrtes Mathias, Stela Câmara, José Brito Barros, Joanyr de Oliveira, Heli Menegale, Daria Gláucia, etc. Mas em se tratando de volume da obra, ninguém produziu mais que Mário Barreto França. Ebenezer Soares Ferreira, ilustre líder religioso, diz que Mário Barreto França é um troféu dos evangélicos pela extensão e qualidade de sua produção literária.
Não sou crítico, nem especialista em literatura para analisar a obra do poeta. Sou apenas modesto apreciador da boa poesia, e, me confesso um admirador cativo do grande bardo evangélico, cujos versos abrilhantaram e abrilhantam ainda muitos cultos e programas de igrejas protestantes no Brasil. Mas não preciso interpretar a poesia de Mário Barreto França, porque como dizia Mário Quintana, não tem por que interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.
Mário Barreto França nasceu no Bairro Boa Vista, Recife, Pernambuco, em 14 de fevereiro de 1909. Filho de Filonila Barreto França e do tenente de engenharia José Eduardo França, era bisneto do grande jurista, filósofo, filólogo, professor e poeta sergipano Tobias Barreto de Menezes. Perdeu o pai quando tinha sete meses, e a mãe, quando contava dois anos. Vida sofrida na infância, foi criado pela bisavó, Grata Barreto de Menezes, viúva de Tobias Barreto. Depois viveu com tios, no Amazonas, no Acre, em Belém do Pará, em Recife,
Seus primeiros versos eram de crítica a uma tia. Outro tio, jornalista João Barreto de Menezes, leu as composições, e orientou o adolescente quanto a um desenvolvimento de seus talentos. Assim, Mário adquiriu um tratado de versificação, de Olavo Bilac e Guimarães Passos, e estudou-o com afinco. Mais tarde, ele fala dessa época da vida, dizendo: “Mais que um recreio intelectual, a poesia se tornou para mim um imperativo de meu estado de alma e de minha ainda insipiente sensibilidade artística.” Permitam-me introduzir aqui uma saborosa história da adolescência de Mário. Entre seus companheiros, estava José Lins de Albuquerque, cujo centenário comemorou-se em outubro de 2010. Lins veio a ser pastor e advogado. Aos dezesseis anos, ele já ensaiava seus discursos, subindo a uma cadeira. Mas não conseguia fazer poesia. Mário aconselhou-o a estudar versificação, rima, métrica e gramática. Lins sabia tudo isso. – Você precisa de uma namorada – observou Mário. Alguns dias depois, Lins mostrou seus primeiros versos a Mário. A musa de Lins era Julieta. Mário reagiu: - Julieta é minha namorada! E Lins disse: - Eu olhei para ela, ela me deu um sorriso, e eu a elegi minha musa. Apareceu então um sargento com bela farda do Exército, e nem Mário e nem Lins conseguiram segurar a namorada.
Quando Mário contava apenas dezoito anos de idade, uma coleção de seus versos foi apresentada numa assembléia solene da Academia de Letras de Sergipe, realizada na Biblioteca Pública. O testemunho de Coriolano Costa Duclerc, num artigo para O Jornal Batista, em 1931 afirmava que “num preito de justa admiração e homenagem intelectual, a Academia reconheceu e consagrou Mário Barreto França como um poeta de mérito genuíno e comprovado, sendo ele alvo de uma verdadeira apoteose popular”.
Mário Barreto França entrou para o Exército Brasileiro, através da escola de sargentos, e reformou-se como general de brigada. Bacharelou-se
Do Amapá ao Rio Grande,
do Recife a Cuiabá,
Grita a angustia que se expande
A verdade onde estará?
Em Brasília ou Salvador,
Proclamemos as divinas
Boas novas do Senhor.
Faleceu no Rio de Janeiro, no Hospital Central do Exército, em 09 de setembro de 1983, aos 74 anos de idade. A esposa de Mário chamava-se Ligia Mesquita de Souza França, e era professora e geóloga. Seus filhos são Mario Barreto França Filho, economista; Marlene de Souza França Henrique, dentista; Márcio de Souza França, arquiteto; Marivaldo de Souza França, pastor e economista; Marli França Chaves, pedagoga; Marcos de Souza França, advogado; e Marluce de Souza França, pedagoga.
Poeta apreciadíssimo, suas poesias eram memorizadas e recitadas por todo este Brasil, e por outros países de língua portuguesa. Algumas dentre as mais famosas foram
A heroína de Craonópolis, saga da primeira missionária batista entre os índios no Brasil;
O beijo da redenção, descrição de ato de Catherine Booth, co-fundadora do Exército da Salvação, em favor de pobre mulher jogada ao cárcere;
Três heróis brasileiros, homenagem a pracinhas que com galhardia lutaram na Itália, e lá ficaram sepultados, na Segunda Guerra Mundial;
Moça, me dá uma rosa, tocante poema sobre um menino pobre, que não viu atendido seu pedido de uma flor, mas foi coberto por um lençol de rosas quando morreu;
Traço de união, narrativa de reconciliação de pai e mãe, junto ao filho agonizante;
Boa noite, a história de um pai que, no leito de morte, despedia-se da família;
O ultimo combate, refere-se a um jovem soldado que morreu em batalha segurando um Novo Testamento, em cuja capa colava-se a fotografia da esposa e do filho;
A dádiva de Maggie, história de uma menina deficiente. Não tendo oferta para a obra missionária, doou sua muleta, comovendo muitos outros que ante tão tocante exemplo abriram o coração e contribuíram com generosidade;
As duas taças, a respeito de um navio de clandestinos judeus, atingido por granada que mata uma criança no colo da avó;
O jogador. Um homem, jogador inveterado, salva-se do vício ante a fé e lealdade da esposa amiga;
Noite de paz, belo poema de natal que termina assim: Noite de bênçãos, feliz e linda/ Que teu cruzeiro rebrilhe ainda/ Rebrilhe mais. /Glorificando a Deus nas alturas/ E unindo todas as criaturas na tua paz.
Os poemas de Mário Barreto França eram religiosos. Não negavam suas convicções de crente evangélico, membro profundamente comprometido de uma igreja batista. Mas eram também exaltadamente patrióticos. E uniam anseios espirituais com amor profundo à Pátria brasileira, como este
Brasil sonhado
Brasil do meu amor!
Brasil sentimental de minha inspiração,
Eu quisera te ver sob a mesma bandeira
Que Cristo desfraldou por nossa salvação.
Mas entre tanta glória que te exalta,
Entre tanta riqueza e esplendor,
Infelizmente, meu Brasil, te falta
Melhor conhecimento do Senhor.
Repara o interior das tuas matas!
Teus sertões!...Tuas vilas afastadas!
Ali onde tu és ingênuo e lindo,
Onde cantas nas vozes das cascatas,
Onde gemes nas cordas dedilhadas,
E onde vives - tão nosso - sempre rindo.
É justamente ali, Brasil querido,
Que tu não tens o livro que te ilustre
Nem meios que t`o façam conhecido!
Eu te quisera ver na vanguarda do mundo,
Ovante, desfraldando o rubro pavilhão
Que Cristo desfraldou por seu amor profundo,
No Calvário imortal do seu grande perdão!
Assim eu te quisera, e assim é que te sonho,
Contemplando o teu mar, e este teu céu azul,
Em que vives suspenso, em que vives risonho,
No símbolo de fé do Cruzeiro do Sul.
Mas eu creio, Brasil, no milagre eloqüente
Do eterno sacrifício do Senhor,
Para seres no mundo, brevemente,
Uma luz, uma bênção refulgente,
Brasil do meu amor.
Os poemas do poeta Barreto França eram também líricos como este Sorriso mentiroso:
Já viste alguém sorrir,
Quando uma dor calada
Lhe punge o coração?
Quando sua´alma triste se ajoelha
No altar da evocação?
Quando os olhos, mirando uma linda paisagem,
Um quadro lírico do luar,
Parecem ver em tudo a doce imagem
De um tão lembrado alguém
Que não o quer amar?
Já viste alguém sorrir,
Quando seu peito arqueja
Numa dor que somente ele pode entender?
Quando no coração algum segredo existe?
Quando ele ouve tocar, ao longe, uma ária triste,
Ária que, muita vez, ouvir tocar deseja,
Pra sentir a volúpia do sofrer?
Já viste alguém sorrir,
Quando o peito é uma chaga?
Quando sua amargura é disfarçada em gozo?
Ou quando, intimamente, um frio pranto o alaga?
Pois bem, eu vivo assim:
Disfarçando num riso mentiroso,
Toda a tristeza que soluça em mim.
O poeta Mário Barreto França era primoroso sonetista. Ouçam este soneto como exemplo:
Sim, eu sei a injustiça que hei sofrido.
Que vontade me vem de protestar!
Mas, domino este impulso e, decidido,
Continuo servindo à Pátria e ao lar.
Não choro ter, ó Deus, algo perdido,
Pois sei que muito mais tens para dar.
O que me dói é ver o amor fingido
Em ter-se, a qualquer preço, um bom lugar.
Quanta ambição de alguns o peito invade,
Pois, para alimentar sua vaidade,
Mancham e ofendem de outros a moral.
E, nesse anseio de melhor destino,
Esquecem de Jesus o nobre ensino:
A cada dia basta o próprio mal!
Mário era exímio trovador. Apreciem só estes exemplos:
Saudade, de quando em quando,
Provoca mágoas e dores,
Pois vai de amores matando
Quem vive lembrando amores...”
Fui menino, moço, e, agora
Por que mudei tanto assim?
Lembrando os tempos de outrora,
Tenho saudades de mim.
Em vida, Mário recebeu muitas condecorações, como
Medalha de Guerra
Medalha de Pacificador
Medalha Militar de Ouro, do Exército
Medalha Maria Quitéria de Jesus
Medalha Marechal Caetano de Faria
Medalha Palmas Acadêmicas
O poeta pertenceu a várias entidades culturais, como
Cenáculo Fluminense de Letras
Academia Evangélica de Letras do Brasil
Academia Pedralva de Letras de Campos dos Goytacazes
Academia Friburguense de Letras
Academia Itaboriense de Letras, Ciências e Artes
Academia Niteroiense de Letras
Academia Amazonense de Letras
União Brasileira de Trovadores
E recebeu os títulos de
Cidadão Petropolitano;
Cidadão Maricaense;
Cidadão Friburguense;
Cidadão Itaperunense;
Cidadão Campista.
Vejam uma relação de títulos de seus livros publicados, alguns deles com várias edições:
No jardim do Senhor – poesias
Sob os céus da Palestina – poesias
De joelhos - poesias líricas
E ouviu-se uma voz no céu – poesias
Um caminho no deserto – poesias
Rios no ermo – poesias
Primícias de minha seara – florilégio
Deixai vir a mim os pequeninos - poemas para crianças
Madureira chorou na prisão - biografia de um ex-detento
Lições que a vida me deu – trovas
O reino azul das crianças - poemas para crianças
Vejo a glória de Deus – poesias
Ressonâncias do paraíso – poesias
Pelas quadras da vida – trovas
O louvor dos humildes – poesias
Sou peregrino na Terra – poesias
Como as ondas do mar - poesias líricas
Na paz do Senhor - poesias
Deixou também prontos estes livros que continuam inéditos:
Preciosas promessas - trovas místicas
A alegria vem ao amanhecer - trovas místicas
Um sonho modificou meu destino – memórias
Corpo e alma - crônicas e contos
Cantigas de riso e pranto – trovas
Achando as asas perdidas - poesias líricas
O educador Mário Barreto França apoiou sempre iniciativas dos jovens. Uilson Mendes, ex-prefeito de Maricá, hoje vive na Bahia, mas deu testemunho, por ocasião do centenário do poeta, no ano passado, de como a Juventude Fluminense é grata a Mário pelo incentivo e pela ajuda que ele prestou. Por isso, os jovens deram-lhe o título de Amigo da Mocidade. Ele escreveu hinos para congressos e encontro de jovens. No Cantor cristão, o hino de número 551 é de sua lavra (letra e melodia). E vale anotar a curiosidade: O músico que fez o arranjo dessa canção morou durante muitos anos
Mocidade, deixa o mundo,
Com seu mal e seu pesar,
E procura o amor profundo
Que Jesus quer te ofertar.
No aconchego dos seus braços,
Tu terás consolo e amor.
Mocidade, nos teus passos,
Segue os passos do Senhor.
Mocidade, ergue a bandeira
Contra o mundo e seus ardis.
Mocidade brasileira,
Com Jesus serás feliz.
Mocidade, a vida é bela,
Quando em bênçãos se traduz,
Quando n´alma um céu estrela
As promessas de Jesus.
Vê que o mundo se debate
Entre as ondas da paixão.
Mocidade, nesse embate,
Anuncia a salvação.
Eu vi e ouvi Mário Barreto França cantar. Com bela voz de barítono, acompanhado-se ao violão, e com muita unção espiritual ele entoava:
Jesus é o melhor amigo.
Sim, repreende com dulçor,
E me anima com vigor.
Sim, o amigo melhor é Cristo.
Jesus é o melhor amigo.
Do pecado me salvou,
Para os céus me preparou.
Sim, o amigo melhor é Cristo.
De outra vez, vi Mário escrever um poema. No intervalo de sessões da Convenção Batista Fluminense, sentou-se diante de uma mesa, e, sem se importar com o burburinho à volta, o poeta escrevia. Após algum tempo, levantou-se com um soneto pronto, como este Perdoa-me:
Perdoa-me, querida! Esta tristeza,
Que muitas vezes o meu ser invade,
É nascida da lírica saudade
Que ao coração sensível trago presa.
Culpa não tens, que a tua gentileza
A mim somente traz felicidade;
Não é por ti, que a tua mocidade
Faz de esplendores a minhalma acesa
Não me crimines nem me queiras menos,
Mas sê piedosa para os meus defeitos
Na bênção dos teus olhos tão serenos...
Porque somente em teu amor, querida,
Eu encontro os meus dias satisfeitos
E acho consolo para a minha vida.
Pelo menos uma vez, Mário Barreto França esteve em Mesquita, para falar a jovens. E eu posso dizer que dentre as coisas boas com que tenho sido agraciado na vida, uma das mais interessantes foi a de conhecer o poeta inspirado, saudoso, inolvidável, príncipe dos poetas evangélicos brasileiros que foi Mário Barreto França.