segunda-feira, 16 de abril de 2012

Posse da Acadêmica Zaly B. Machado


No dia 29 de novembro de 2011, tomou posse na ALAM- Academia de Letras & Artes de Mesquita, a Professora Zaly Barbosa Machado, passando a ocupar a cadeira de número 15 que tem como Patrono Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac. Teve como padrinho o Acadêmico Prof. Durval Meirelles Coelho. A cerimônia foi presidida pelo Presidente da Academia, o Senhor Othon Ávila Amaral e contou com presença dos outros acadêmicos, autoridades e convidados.


Introdução:
Na Bíblia Sagrada, há o registro das sábias palavras do rei Salomão dizendo que há tempo para todas as coisas debaixo do céu. Agradeço a Deus por este tempo na minha vida e dedico-lhe toda honra advinda do que aqui se registrar nesta noite.

Hoje comemoramos onze anos de fundação ALAM e, devido ao esforço dos Acadêmicos, ela se faz presente como órgão divulgador da cultura local e da cultura, de modo geral, e se envolve efetivamente na vida social, cultural, política e religiosa de nossa sociedade, oferecendo aos mesquitenses a oportunidade de assistir a palestras de alto nível, a participar de saraus e outros eventos, e a tomar conhecimento das ações culturais de municípios vizinhos.



E, nesta data tão significativa para nós, aqui estou eu, timidamente, sendo empossada , pela benevolência e simpatia dos colegas, como um dos seus pares.

Coube-me (quanta honra! ) a cadeira número 15 , cujo Patrono é o poeta Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac( cujo nome, por si só, já constitui um verso alexandrino ) que procurarei honrar, e que foi ocupada anteriormente pela poetisa Dalma Rodrigues.

ADMALDA RODRIGUES DA SILVA

DALMA RODRIGUES (nome artístico )

Nasceu em São Fidélis, no Município de Campo Alegre,Estado do Rio de Janeiro.

Filha de Antônio Rodrigues e de Amélia Nunes da Silva, é penúltima filha de uma família constituída de nove irmãs e um irmão.

Ainda menina, aprendeu a gostar de música, quando “Seu Rodrigues”, como era chamado seu pai, promovia bailes em casa, nos finais de semana.

Quando veio para o Rio de Janeiro, cursando ainda o primário, gostava de cantar as canções da época e se encantava com os versos de Bilac, que eram muito difundidos nos livros escolares de seu tempo.

Já adolescente, teve a oportunidade de assistir, pela primeira vez, à projeção de um filme no cinema.

Mesmo gostando tanto da língua expressa por meio da música e da poesia, escreveu seu primeiro poema quando as filhas já eram adolescentes.

Enfrentou muitas barreiras da família para realizar seus projetos de vida relacionados à arte.

Era cantora, compositora, poetisa e atriz.

Em 2006 gravou o CD “Raio de Luar“, realizando um dos seus grandes sonhos.

Foi aluna do curso de teatro ministrado pelo professor Durval Meirelles, contracenando com ele em algumas ocasiões. Além de atuar durante vários anos no teatro, participou também de alguns filmes.

É de sua autoria a poesia PARA SER FELIZ , publicada na Coletânea dos Poetas e Artistas Plásticos Amigos de Mesquita , em 2009, sob Coordenação do acadêmico Antonio Neves, em que expressa em linguagem clara e simples o anseio de sua alma insatisfeita : realizar um sonho, amar, voltar a ter esperança, poder dividir sua felicidade com os outros e aceitar que nem todos, como ela, acham, veem e querem um mundo belo.

Dalma faleceu neste ano , em data desconhecida por nós.

“Para ser feliz

Preciso apressar os passos

Para alcançar aquele sonho meu

Preciso juntar meus braços num abraço

E ter de volta a esperança que se perdeu.

.....................................................................

E lembrar que felicidade

É dividir com a humanidade

Todo o amor que existe no meu eu.

......................................................................

Preciso esquecer

A ingenuidade de pensar

Que todos acham o mundo belo

Como eu acho, vejo e quero!”

Mas, para chegarmos ao ano de 1888, quando Olavo Bilac publicou seu primeiro livro, precisamos conhecer um pouco da história da literatura brasileira. Devido à extensão da obra do Autor, farei apenas um recorte de suas poesias .

1- A Literatura Brasileira no século XIX

Durante o século XIX, desenvolveu-se no Brasil, um movimento literário chamado ROMANTISMO, que constituiu o período do verdadeiro início de nossa literatura com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836.

Foi um movimento muito rico, com muitos desdobramentos ,mas uma característica distingue o escritor romântico de todos os outros- o gosto pela expressão franca dos sentimentos, dos sonhos e das emoções que povoam seu mundo interior, numa atitude individualista e profundamente pessoal.

São deste período poemas conhecidos de todos nós, como Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, publicado há 168 anos (1843 ):( “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá, / As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá.”) Ou ainda de Casimiro de Abreu o poema Meus Oito Anos (“ Oh! Que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida,/ Que os anos não trazem mais!” ) E muitas poesias, romances e peças teatrais proliferaram à época.

Mas, o mundo passa por transformações, a sociedade muda e a forma de expressão também e, a partir da segunda metade do século XIX, começou na França outro movimento literário chamado REALISMO, cujo início, no Brasil, é marcado pela obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.

Segue-se o NATURALISMO, que enfatizava o aspecto materialista da existência humana, sendo Aluísio de Azevedo o autor mais tipicamente naturalista de nossa literatura, destacando-se, entre outras, sua obra O cortiço ( 1890 ), que mexeu com a cabecinha de muitos estudantes do século passado.

E enquanto a prosa realista representou uma reação contra a literatura sentimental dos românticos, a poesia pregava a rejeição do “excesso de lágrimas” e da linguagem coloquial do Romantismo. A poesia lânguida, chorosa, idealista dos românticos era incompatível com os ideais do século antirreligioso, alicerçado na razão, na ciência e no progresso.

1.1.Parnasianismo

Como conseqüência das novas idéias, no final do século XIX, teve início no Brasil o movimento poético chamado PARNASIANISMO (1890 a 1911 ) , que valorizava o cuidado da forma e a expressão mais contida dos sentimentos. O autor parnasiano deveria desaparecer ,em favor do estilo, para que a rima rara, a chave- de- ouro do soneto e o brilho do verso se manifestassem em sua grandiosidade .

“ É de assinalar, porém, entre os nossos parnasianos, que, embora tenham produzido numerosas obras puramente objetivas, não sacrificaram jamais a sua natural sensibilidade .
Nos seus versos quase sempre vibra a alma brasileira, a alma tropical, com toda a sua força, em livre expansão, apesar dos preconceitos da corrente a que estavam filiados.” (MONTEIRO, Clóvis, p 256 )

1.1a. Poetas parnasianos:

Os poetas da escola parnasiana que mais se evidenciaram foram Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Representam o que de mais alto produziu a nossa poesia em todas as fases de sua história, preenchendo a sua obra todo um período da nossa história literária.

Outros parnasianos que também enriqueceram a literatura deste período foram: Vicente de Carvalho , Francisca Júlia, Luís Delfino, B. Lopes, Augusto de Lima, Guimarães Passos e Machado de Assis,

É neste movimento literário que se insere nosso poeta.

2-OLAVO BRAZ MARTINS DOS GUIMARÃES BILAC

2.1. Vida

Considerado um dos nossos maiores poetas nacionais , o mais lido e admirado.Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias (1896). Foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros“ pelos literatos da sua época.É autor do Hino à Bandeira Nacional. Conferencista de platéias elegantes, sua obra tornou-se leitura obrigatória, sendo declamado nos círculos literários.

Participou ativamente da vida pública do país. Era desafeto do marechal Floriano Peixoto e foi exilado em Ouro Preto, MG, por fazer oposição ao governo dele.

Exerceu diversos cargos públicos na cidade do Rio de Janeiro, entre eles o de inspetor escolar.

Promoveu campanhas pela alfabetização e de mobilização em favor do serviço militar obrigatório.

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 06 de dezembro de 1865 onde também morreu em 28 de dezembro de 1918,aos 53 anos. Era filho de Dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e de Delfina Belmira dos Guimarães Bilac. Sua morte comoveu o país, principalmente o Rio de Janeiro.De acordo com os jornais da época, suas últimas palavras foram: “Deem-me café! Quero escrever!.” (Secchin, in 100 anos de poesia-Parnasianismo,p.42).

Cursou e abandonou as faculdades de Medicina e Direito para dedicar-se exclusivamente à literatura, passando então a escrever para jornais e revistas, o que causou o rompimento com seu pai, que só conhecera aos cinco anos de idade, quando este voltou da Guerra do Paraguai. Após romper com seu pai, saiu de casa,tornando-se boêmio e passando a frequentar as confeitarias do Rio de Janeiro, em companhia de outros poetas da época.

Estreou aos 23 anos com a publicação de “Poesias“ ( 1888) , ganhando imediato reconhecimento de público e crítica. A segunda edição desta obra só ocorreu 14 anos depois, em 1902, acrescentada de três novas partes.

A cada publicação, Bilac acrescentava novas poesias à sua obra, pois entendia que o poeta deveria ser homem de apenas um livro; nas edições póstumas este critério foi alterado.

Em 1916 fundou a Liga de Defesa Nacional.

2.2. Obra

Sua obra é variada nos seus aspectos, além de rica na substância e exemplar na forma. Nos versos vibram as paixões da mocidade, sentimentos fortes e profundos e ternura comovedora.

Extraiu das grandes épocas da História da Humanidade assuntos para suas poesias modelares.Penetrou também na história brasileira e colheu material para diversos poemas em que se sente a alma patriótica, procurando preparar os moços para os destinos reservados à nossa Pátria.

”Bilac não é apenas um dos maiores poetas nacionais. É poeta que honraria a mais culta literatura de qualquer época e de qualquer língua. Os seus versos, graças à fecundidade do seu espírito, têm o dom de inspirar poesia a quantos saibam senti-los – e quem não os sabe sentir? “ (Monteiro, Clóvis, p.267 )

Em sua Profissão de Fé ao Parnasianismo, o poeta se autodefine ao afirmar que, quando escreve, inveja o ourives, acentuando a importância da escolha das palavras precisas, do cuidado com as frases e realça o polimento dos versos, para que o poema se torne semelhante a uma jóia.

“Invejo o ourives quando escrevo:/ Imito o amor / Com que ele , em ouro, o alto-relevo/ Faz de uma flor// Torce, aprimora, alteia, lima/ A frase; e enfim,/ No verso de ouro engasta a rima, / Como um rubim. / Quero que a estrofe cristalina,/Dobrada ao jeito/ Do ourives, saia da oficina/ Sem um defeito. “

No poema A um Poeta mostra que a fama deveu-se não apenas à sua índole de artista, mas à própria concepção de arte: “Longe do estéril turbilhão da rua ,/Beneditino, escreve!
No aconchego/ Do claustro, na paciência e no sossego,/ Trabalha , e teima, e lima, e sofre, e sua! //Porque a beleza, gêmea da Verdade/ Arte pura, inimiga do artifício,/ É a força e a graça na simplicidade.“

Coloca em prática sua definição de arte como “a força e a graça na simplicidade” na obra Poesias Infantis ,1904, uma coleção de 58 poemas, metrificados , falando de forma simples sobre a natureza e a virtude.

Quem não se lembra de ter lido, em seu livro escolar ,o belíssimo poema O Pássaro Cativo em que o autor prega a liberdade ,descrevendo a aflição de um pássaro capturado por uma criança , dizendo o que a ave diria, se pudesse falar.

O pássaro cativo
Armas, num galho de árvore, o alçapão
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
...
"Não quero o teu alpiste!
...

Não quero a tua esplêndida gaiola!
...
Com que direito à escravidão me obrigas?
....
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! Voar!
...
E a tua mão tremendo lhe abriria

A porta da prisão...

Ou aquela em que duas meninas brigaram tanto por uma boneca, que a rasgaram ao meio, ficando ambas sem o brinquedo?

A BONECA


Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
........................................

Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca . . .

E aquela em que retratou o desespero do fiel Plutão, cachorro que permaneceu no cemitério, onde foi encontrado morto, junto à sepultura de Carlinhos, seu pequenino dono, que não resistira a uma enfermidade?

Plutão


Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.

.........................................

Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,
Acharam morto o Plutão.

Mas, como preciso dar ordem à minha fala, utilizei o agrupamento das obras parnasianas de Bilac, de acordo com suas características, feita pelo professor José de Nicola , e exemplifiquei cada fase com um texto, para termos uma visão melhor do todo.

a)Em Panóplias, o poeta está voltado para a Antiguidade Clássica, basicamente para Roma. Para esta fase, destaquei O Incêndio de Roma, em que, num soneto, Bilac consegue descrever a intensidade do incêndio, com a escolha de palavras constituídas de fonemas (sons) oclusivos e vibrantes, (raiva,ruir,muralhas, pedra, sopro, esbroa, reverbera, ébrio, mármor, frígio , engrinaldada ), que dão a exata idéia da destruição até apresentar Nero ébrio, cingido por um manto grego, no alto do Palatino,com a suave lira em punho, celebrando, impassível, a destruição de Roma.

O INCÊNDIO DE ROMA

Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas,

As muralhas de pedra, o espaço adormecido

De eco em eco acordando ao medonho estampido,

Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas..

E os templos, os museus, o Capitólio erguido

Em mármor frígio, o Foro, as erectas arcadas

Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas

Do incêndio, tudo esbroa-se partido.

Longe, reverberando o clarão purpurino,

Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte...

- Impassível, porém, no alto do Palatino,


Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assoma

Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte,

Lira em punho, celebra a destruição de Roma.

b) Em Sarças de Fogo permanece o lirismo, a que se acrescenta agora o sensualismo. Escolhi A Alvorada do Amor, lindíssimo poema que retrata Adão vendo a hesitação e o medo de Eva ao fechar-se a porta do Éden, e convidando-a a viver o amor, a renovar o pecado, longe de Deus. E ao final, os versos que, se não fora arte, nos chocariam pela audácia do poeta diante da majestade e poder de Deus.

A ALVORADA DO AMOR

Um horror grande e mudo, um silêncio profundo

No dia do Pecado amortalhava o mundo.

E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo

Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,

Disse:

“Chega-te a mim! Entra no meu amor,

E à minha carne entrega a tua carne em flor!

Preme contra o meu peito o teu seio agitado,

E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!

Abençoo o teu crime, acolho o teu desgosto,

Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!

.................................................................

Ah! Bendito o momento em que me revelaste

O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime!

Porque, livre de Deus, redimido e sublime,

Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,

-Terra, melhor que o céu! Homem, maior que Deus! “

c) Em Alma Inquieta, o poeta volta-se para temas ditos filosóficos , tão ao gosto dos parnasianos.Escolhi para exemplificar esta fase o soneto que explica o êxtase da composição até o momento em que, alucinado, o artista vê sua obra concluída e, exausto, pensando ter arrancado do mundo o nada, cai, não ao pé do mundo, mas ao pé de um grão de areia, percebendo a ilusão da vaidade humana.

VANITAS

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,

Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,

E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada

De gritos de triunfo e gritos de agonia.

Prende a ideia fugaz; doma a rima bravia,

Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada:

“Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!

Filha do meu trabalho! Ergue-te à luz do dia !

Cheia da minha febre e da minha alma cheia,

Arranquei-te da vida ao adito profundo,

Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives! “E o Poeta

Pensa que vai cair , exausto, ao pé de um mundo,

E cai - vaidade humana!- ao pé de um grão de areia...

d) Em Viagens encontramos o poema épico O Caçador de esmeraldas , que o próprio Bilac define como “episódio da epopeia sertanista do século XVII”, que narra a chegada dos bandeirantes a terras mineiras, com os paulistas individualizados na figura de Fernão Dias Pais Leme.

Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
- Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Pais Leme entrou pelo sertão.

e) Em Tarde o poeta é mais descritivo e profundamente nacionalista.São dessa fase Crepúsculo na mata, e Anchieta e Vila Rica, mais nacionalistas. O que mais chama a atenção do leitor de Tarde é a consciência do fim, a proximidade da morte : o crepúsculo do poeta.Escolhi para refletir esta fase o soneto Ciclo , no qual ele associa as fases da vida ao ciclo da vida de uma árvore e ao decorrer do dia.


CICLO


Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!


Dia. A flor - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!

Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!

Noite. Oh! Saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!

f) Em Via láctea temos 35 sonetos marcados por forte lirismo.O lirismo e a temática desses sonetos são responsáveis pela popularidade imediata alcançada pelo poeta. Destaco o de número XIII, em que o poeta supondo o diálogo com um amigo, ensina-o a conversar com as estrelas.

XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

2.3.Obras de Bilac:

1-Poesias:

Poesias ,1888; Poesias Infantis ,1904; Tarde (póstuma ) ,1918.

2-Ensaios e Crítica: Crítica e fantasia, 1906; Conferências literárias , 1906, A defesa nacional, 1917.

3- Crônica: Ironia e Piedade, 1916.

4-Didáticos: Tratado de versificação ( com Guimarães Passos) , 1910; Dicionário de rimas ( com Guimarães Passos ), 1913; Através do Brasil ( com Coelho Neto e Manuel Bonfim ), 1913.

3. CONCLUSÃO

Mas os senhores não pensam que vou encerrar minha fala sem aproveitar a oportunidade e o soneto de Bilac, para reiterar meu amor à Língua Portuguesa.

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Bibliografia:

-MONTEIRO, Clóvis. Esboços de História Literária. Livraria Acadêmica.RJ.1961.

-TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. Editora Moderna. SP. 1996.

-PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de Época na Literatura. Ediex Gráfica e Editora Limitada.RJ. 1967.

-MORICONE, Ítalo (org. Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século .Objetiva.RJ.2001.

-RODRIGUES, Claufe & MAIA, Alexandra ( org.). 100 Anos de Poesia. Um panorama da poesia brasileira no século XX. Vol I . O Verso Edições.RJ.2001.

-DE NICOLA, José. Literatura brasileira, das origens aos nossos dias. SP. Scipione. 1998.

-NEVES, Antonio.(coord.) Coletânea dos Poetas e Artistas Plásticos de Mesquita. 2009.

Sites: pt.wikepedia.org./wiki OlavoBilac. Acesso 18 e 19 de nov. 2011.

pt.SHVOONG.com.books/biography/vidaemverso/1660732-olavo-bilac-vida-obra. Acesso nov.2011.

WWW.revista.agulha.com.br./bilac html- nov.2011

Mesquita, 29 de novembro de 2011

Zaly B. Machado

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